BISPO ANTÔNIO KELLER DE FREDERICO É DENUNCIADO POR ESTUPRO DE VULNERÁVEL

O bispo Dom Antonio Carlos Rossi Keller é o líder regional dos católicos, chefe da diocese de Frederico Westphalen, que compreende 39 paróquias em 56 municípios.

Para o MP, o bispo Keller se aproveitou de sua “autoridade como bispo” e da “fragilidade afetivo-psicológica da vítima” para cometer os abusos | Foto: Reprodução

 

Frederico Westphalen é uma cidade de 31 mil habitantes no norte do Rio Grande do Sul, a mais de 420 km de Porto Alegre. Apesar do nome germânico, ali predominam os descendentes de italianos. Uma população tranquila e ordeira, que se orgulha de ir à missa aos domingos.

Assim como em boa parte das colônias italianas do interior gaúcho, a Igreja Católica exerce grande influência sobre a comunidade local. No caso de Frederico, como a cidade é carinhosamente chamada pelos moradores, a igreja ainda controla o principal grupo de comunicação da região, o Luz e Alegria, dono da rádio mais popular da cidade, de um jornal impresso e de um site. O Conselho da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, a URI, também conta com a participação de autoridades católicas.

Nos últimos anos, a aparente tranquilidade das calçadas frederiquenses foi abalada por uma denúncia de pedofilia contra o bispo da cidade, Dom Antonio Carlos Rossi Keller, assinada por membros da própria igreja. Acima dos padres na hierarquia da igreja, o bispo é o líder regional dos católicos, chefe da diocese de Frederico Westphalen, que compreende 39 paróquias em 56 municípios. 

A acusação veio em forma de uma carta redigida por sete padres e cinco fiéis, na qual acusavam o bispo Keller de abusar de meninos menores de idade ligados à igreja. “Pedofilia no interior do clero e do clero com seminaristas”, diz o texto. Sem poder recorrer ao bispo, enviaram a carta, ainda em 2017, ao arcebispo da cidade de Passo Fundo, ao Núncio Apostólico (representante diplomático da Santa Sé em países de grande população católica) e ao Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul.

No texto, eles também reclamavam do esvaziamento das missas, abuso de poder do bispo com outros sacerdotes, falta de transparência no uso do dinheiro recolhido pela congregação e “aproximação intensa com o seguimento radical da Opus Dei”, denominação ultraconservadora da igreja que prega, por exemplo, castigos físicos como forma de autopunição.

Ao menos dois padres que assinaram o documento acabaram afastados da igreja, impedidos de rezar missas e sem os benefícios fornecidos pela instituição, como a contribuição para a Previdência Social, plano de saúde e a côngrua, como é conhecido o “salário” recebido pelos sacerdotes. Um deles enfrenta ainda um processo de expulsão da igreja.

Quatro anos após a denúncia, os signatários não tiveram qualquer resposta por parte do Núncio. Enquanto a igreja preferiu dar pouca atenção ao caso, o Ministério Público abriu um inquérito e, em agosto de 2020, denunciou o bispo Keller por estupro de vulnerável contra o ex-coroinha Lucas Faligurski. Tive acesso com exclusividade à investigação e ao processo, que corre em sigilo.

Para o promotor Gerson Luis Kirsch Daiello Moreira, o bispo se aproveitou de sua “autoridade como bispo” e da “fragilidade afetivo-psicológica da vítima” para cometer os abusos. Os crimes, segundo o MP, ocorreram entre agosto de 2008 e fevereiro de 2010, quando o ex-coroinha tinha 13 e 15 anos.

Parte da carta enviada ao arcebispo da cidade de Passo Fundo, ao Núncio Apostólico e ao Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul.

 

A denúncia aponta ainda os crimes de lesão à saúde e coação no curso do processo em função das punições aplicadas a Claudir Miguel Zucchi, um dos padres que assina a carta. Para o MP, as penalidades impostas a Zucchi, que pode ser expulso da igreja, serviram para desencorajar outros possíveis denunciantes.

O juiz da comarca local, porém, rejeitou a denúncia, alegando que parte das condutas imputadas ao bispo não caracterizavam crime e que as demais condutas não teriam sido descritas de forma satisfatória pelo Ministério Público, o que representaria “violação do contraditório, da ampla defesa e da necessidade de uma acusação certa”. O MP recorreu. Em junho deste ano, o caso foi encaminhado ao Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, onde aguarda julgamento.

 

Fonte:  / The Intercep Brasil

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